"Casinha Branca" e a busca do simples em meio ao caos urbano


A publicação de hoje inaugura a categoria Dissecando a Letra, em que faço uma reflexão a partir da análise de uma música. Para começar, escolhi “Casinha Branca”, composta pelo cantor Gilson e seu companheiro de composições Joran. 


A música que fez sucesso nos anos 70 e integrou a trilha sonora da telenovela Marrom Glacê, continua sendo muito atual ao transmitir a ideia de não pertencimento ao meio urbano. Em 2015, a canção foi regravada por Roberta Campos e foi muito pedida nas rádios. 


Ouça a música:


“Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo à minha frente
Nada que me dê prazer”

Na primeira estrofe, a tristeza, o descontentamento da solidão e o cansaço em decorrência de tanta informação se tornam evidentes de tal forma que nem sequer há alívio.

“Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho perecer”

No trecho seguinte, reafirma-se que a felicidade e a alegria se tornam distantes do eu lírico e o mesmo percebe isso ainda jovem, com sonhos que não mais são abundantes, mas decaíram pelo distanciamento da alegria e a dor da solidão. Na palavra “mocidade” é perceptível também um sentido duplo que se relaciona tanto com sua própria condição quanto com a condição de seus contemporâneos.

"Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer"

No refrão, vê-se que o problema não é estritamente da solidão, mas do tipo de solidão que se sente no meio urbano. O eu lírico manifesta sua preferência pelo meio rural de modo delicadamente descritivo, dando detalhes do que muitos consideram simples. Essa ilustração é clara da simplicidade que se busca ao mergulhar no caos urbano, com suas complexidades de informação, e desejar estar no campo, como uma espécie de fuga.

"Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando
Em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão"

Na estrofe posterior, percebe-se que por mais que se busque romper com a solidão no meio urbano, ao visar a aproximação das pessoas, o eu lírico vê que elas têm uma complexidade à vista e cada uma delas carrega suas próprias angústias, alegrias e individualidades.

Ao retomar o refrão, vê-se então o desejo latente do eu lírico de fugir dessa solidão em meio a multidão e dar preferência por um estilo de vida simples no distanciamento da vida urbanizada.

Imagem: Unsplash

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